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domingo, 9 de março de 2014

A AUTO-IMAGEM DO POVO BRASILEIRO


Antonio de Andrade

Dia 22 de abril de 2000 o Brasil comemorou oficialmente os seus 500 anos do "descobrimento" por Pedro Álvares Cabral, fato histórico que iniciou "oficialmente" a nação brasileira. Cada pessoa que nasceu e vive neste país, sente-se brasileiro. Convido-o a fazer uma reflexão sobre a auto-imagem do povo brasileiro.
Auto-imagem é um aspecto muito importante na vida de cada ser humano e, numa visão maior, uma visão de um povo, pois é o modo como cada um (pessoa ou povo) enxerga a si próprio e se posiciona em relação aos outros. A auto-imagem influenciará e determinará a maneira de cada pessoa ou povo, se adaptar à vida, o modo de olhar para si próprio e para os outros, pessoas ou povos.
Definida a auto-imagem, o que ela tem a ver com o país chamado Brasil? Muito, tem muito a haver! Se uma pessoa foi educada como se ela não servisse para nada, que ela é ruim, que não tem capacidade, não tem qualidades, é burra e ignorante e outras características depreciativas como ser humano, certamente ela não se sentirá bem consigo mesma e nem com os outros, por ter baixa opinião sobre si própria e sobre os outros, sentindo-se sem qualidades e sem valor como ser humano. Situação que afetará negativamente o desenvolvimento da pessoa.
Agora, se essas idéias forem aplicadas em sentido mais geral, ao "povo brasileiro", o que será encontrado? Gerações e gerações de brasileiros aprenderam nos bancos escolares que o Brasil foi colonizado pelos portugueses, depois de ter sido "descoberto" em 22 de abril de 1500, pela esquadra de Pedro Álvares Cabral. E para realizar essa colonização e "domínio" das novas terras, os portugueses começaram a enviar para cá os condenados e outros que a sociedade portuguesa da época rejeitava. Eram os "degredados", exilados na nova terra em vez de ficarem presos, cumprindo pena nas prisões de Portugal. E junto a eles vinham para as novas terras, aventureiros e mercadores que buscavam riqueza fácil, que queriam explorar o que pudessem das riquezas das novas terras descobertas e que tinham uma só lei e objetivo: fazerem fortuna e voltarem ricos à corte e sociedade portuguesa ou européia.
Assim, gerações de estudantes brasileiros aprenderam que no início do Brasil o "povo brasileiro" foi formado pelos portugueses "enjeitados" da sociedade da época, a "escória, a ralé, os desprezados", e nas novas terras miscigenados com o índio e o negro, resultando dessa mistura racial, o "caboclo ou mameluco" (branco com índio), o "mulato" (branco com negro) e o "cafuzo" (negro com índio), ou seja "o povo brasileiro", e muito tempo depois recebeu outras raças, os italianos, os alemães, os japoneses, etc.
Em outras palavras, muitas gerações de brasileiros aprenderam que "o povo brasileiro" foi formado pelo "pior tipo" de gente, da época, os portugueses expulsos de sua terra natal. E assim, gerações e gerações do povo brasileiro ficaram com uma "auto-imagem coletiva", mental e emocional bastante negativa, sem as pessoas se darem conta disso, conscientemente. E dessa auto-imagem negativa nasceram as várias idéias depreciativas do "povo brasileiro": povo "indolente", "preguiçoso", que "não se esforça no trabalho", que é "corrupto por natureza", que "só quer levar vantagem sobre os outros", que só "quer passar a perna, com esperteza nos outros" e outras, muitas outras, idéias e preconceitos históricos, culturais e raciais.
Mas cada pessoa que faz parte desta nação, não precisa "sentir-se por baixo", diminuído em sua auto-imagem "histórica", como um povo, ao tomar consciência desses fatos históricos. O Brasil comemorou em 2.000 os seus 500 anos de história, e cada brasileiro pode e deve erguer a cabeça como povo e como nação. O "povo brasileiro" pode e deve ter uma auto-imagem mais positiva do que aquela que inconscientemente, aprendeu nos bancos escolares. Pode sentir que é um povo de qualidade, que tem muitas qualidades e capacidades como povo.
Do mesmo modo que uma pessoa se conscientiza de que é um vencedor desde o primeiro instante em que foi gerado, pois é o resultado da fusão de um óvulo com um espermatozóide vencedor, aquele que "venceu" quase quinhentos milhões de outros espermatozóides na corrida pela vida, o povo brasileiro é resultado "do melhor" que havia na época do descobrimento. A própria História mostra esse aspecto. Portugal e Espanha eram os dois países europeus mais adiantados na época de 1.500. Portugal, em especial, tinha um povo bastante adiantado em relação aos outros da Europa: foi o primeiro a utilizar a matemática para calcular e orientar as rotas marítimas, foi o povo que inventou a unidade de velocidade marítima, o nó, ainda utilizada até os dias atuais, foi o povo que primeiro construiu embarcações capazes de enfrentar as longas travessias oceânicas, embarcações dez vez maiores do que as tradicionais caravelas, a nau, um enorme barco com quase 500 toneladas e que tinha capacidade, com suas velas especiais, de navegar independente de qual direção soprasse o vento. Era, além disso, um povo arrojado nos mares, desenvolvido nas técnicas comerciais e de navegação, era um povo otimista, que tinha grande vontade de "ir para a frente" utilizando todas as suas experiências e capacidades. Em síntese, sem desmerecer outros povos da Europa da época, era um dos melhores dentre os melhores.
E se o Brasil foi "descoberto" pelo melhor povo, os portugueses, dentre os melhores da época, o povo brasileiro só tem que se orgulhar de ter sido "iniciado" como povo, do mesmo modo como cada pessoa foi gerada, por vencedores, pelos melhores em capacidade e outras características.
Assim, é importante que cada brasileiro deixe de lado aquelas idéias derrotistas de que o povo brasileiro foi formado pelo "pior", e cada um erga a sua cabeça como pessoa. E se cada brasileiro mudar essa sua auto-imagem como pessoa e como povo, poderá junto com todas as outras pessoas que formam o maravilhoso e diversificado e capaz povo brasileiro, erguer a cabeça e mente, com altivez, de que como povo foi produto do melhor que existia há 500 anos atrás.
E assim, os brasileiros poderão ser mais alegres, com uma auto-imagem renovada e bastante positiva, como pessoa e como povo. Afinal, como povo, erguemos esta nação verde e amarela e podemos, a cada dia, comemorar, com muito orgulho, sim, senhor!
* No site www.editora-opcao.com.br há outros Artigos, Livros, Cursos e Palestras do escritor Antonio de Andrade.
* Relacionado às idéias deste artigo, leia no site, em especial, o artigo "Globalização e o berço verde e amarelo".

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