Foto: Joedson Alves/ Reuters
Não bastasse a situação econômica adversa, o governo Dilma parece enfrentar, no seu início, uma pororoca política. Os sintomas, na verdade, são de que a política tal e qual a conhecemos está à beira da implosão.
O PMDB é situação e oposição simultaneamente; no PT seus integrantes atiram-se uns aos outros à fogueira quando convém; o candidato a presidente do PSDB passa a campanha falando de Minas Gerais e perde justamente lá. O número de partidos políticos não para de aumentar (um ao ano, em média), embora 75% da população os rejeitem, um índice recorde segundo as pesquisas.
Difícil escapar à percepção de que algo está fora da ordem e que não diz respeito apenas às circunstâncias do momento.
O buraco é muito mais embaixo. Os primeiros sinais vieram das ruas, em junho de 2013. Ficou evidente o fosso entre o que fazem, dizem e querem os políticos e as demandas da sociedade. Parecem que falam línguas diferentes. De lá para cá, o buraco não foi tapado. Se pontes foram construídas, está difícil de enxergá-las.
Neste cenário, o escândalo da Petrobras e a futura entrada em cena dos parlamentares citados nas delações premiadas (com provável julgamento no STF) pode ser o estopim da implosão. Para parte da oposição isto significará impeachment, embora Dilma, com seu estilo ausente, como se as tormentas não lhes dissessem respeito, tenha mostrado grande capacidade de sair ilesa de naufrágios (e até fortalecida).
Mas o terremoto pode ser mais significativo do que isso.
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O exemplo internacional mais próximo a nos orientar sobre o que é a implosão de um sistema político é o que ocorreu na Itália. Me refiro à Operação Mãos Limpas — a devassa anticorrupção ocorrida nos anos 1990, quando promotores públicos conduziram investigações contra centenas de políticos, empresários, funcionários de governo e juízes. Vieram à tona, na Itália, desde as irregularidades existentes no financiamento dos partidos políticos ao relacionamento de governantes com a máfia.O resultado imediato dessa gigantesca crise política foi o desaparecimento dos principais partidos existentes à época, como a Democracia Cristã e o Comunista.
Passada a devassa nem a máfia nem a corrupção acabaram na Itália, mas essa é outra história.
Se vingar algo similar a isto no Brasil, será sem dúvida um terremoto político de largas proporções. Por este enredo, a crise terminaria em uma reforma política “de verdade” e num rearranjo de forças cujo alcance, no momento, só é possível vislumbrar como ficção.
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