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sábado, 6 de dezembro de 2014

Como a geração que nem trabalha nem estuda pode afetar a política


Praia do Arpoador, no Rio, é ponto de encontro da geração que nem trabalha nem estuda nem gosta de política (Foto: Fábio Motta)
O iracundo Helmut Kohl, que em seus 16 anos à frente do governo alemão se tornou o mais duradouro chanceler daquele país, foi levado a conhecer a praia de Copacabana na primavera de 1996. Fazia visita oficial ao país. Com a lógica fria de quem comandou a unificação alemã, ao avistar do calçadão milhares de pessoas sob o sol nas areais da zona sul, num dia de semana, ou seja, dia supostamente útil, questionou: “Essa gente não trabalha?”.O IBGE calcula que o número de jovens de 15 a 29 anos que não estudava nem trabalhava chegou a 9,6 milhões no país, isto é, uma em cada cinco pessoas da respectiva faixa etária. É a geração nem nem.Poucos desses estão entre a juventude bronzeada que espantou Kohl.
São na realidade um exército de reserva de mão de obra do capitalismo, como afirmava Marx? Dificilmente. O capitalismo moderno já os dispensou. Quem os alista agora são os exércitos da marginalidade, do tráfico ou, na melhor das hipóteses, da economia informal.
O sociólogo polonês Zygmunt Bauman aponta como sinal da modernidade dois grandes grupos sociais: os turistas e os vagabundos. Os primeiros são sintoma de uma sociedade de consumo de grande circulação de dinheiro e mercadorias, sem nenhum apego ao chão onde pisam. Os segundos são os excluídos da força de trabalho e do mercado de consumo. São aqueles que foram feitos vagabundos; não escolheram ser vagabundos.

A hora de a gente bronzeada mostrar seu valor passou. O samba de 1940 do compositor baiano Assis Valente é de uma alegria ufanista que não combina com o autor. Ele se suicidou em 1958, aos 46 anos. Deixou nos bolsos um bilhete pedindo que Ary Barroso pagasse seus aluguéis em atraso. No Brasil, é assim: valente ufanista morre pobre e endividado; jovem já é descartado antes mesmo de começar a viver.
A geração que nem trabalha nem estuda também não está nem aí para a política. Um sinal de que esse Exército só deve engrossar e de como é difícil fazer as coisas mudarem.
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